Vão com Deus!

Continuando o triste relato de Camille Baudelaire.

A cada semana Camille escuta desaforos, passa por desventuras mas como é a irmã brasileira dos órfãos Baudelaire...não desiste nunca.
Hoje contarei um episódio ocorrido a um ano e meio atrás....apesar de ter uma desventura desventurada esta semana...mas enfim, vou me ater aos fatos antigos por enquanto para que todos que se depararem com a triste história desta mocinha possam entender suas reações frente aos percalços da vida.

A um ano e meio atrás em uma noite relativamente agradável Camille aceita passear com seu amado. Ele possuidor de uma moto vermelha, bonita, bom motorista, a convida para irem até a casa de um amigo.
Ela feliz, aceita pois nada melhor do que horas passadas ao lado de seu querido.
Ahhh mas se ela soubesse que seriam assaltados naquela noite, que apontariam uma arma em sua direção, que gritariam com ela, que perderia seu tênis adidas recentemente comprado mas que já estava bem usado, que levariam a bolsa velha ganha de sua melhor e mais querida amiga, que teria que refazer todos os seu documentos, que meses a frente passariam seus cheques mesmo depois de ter cancelado seu talão, que sofreria de medo de motoqueiros por um bom tempo mesmo tendo que andar de moto vermelha bonita com seu amado.....
Mas como já disse este é um relato de desventuras, não de alegria, ou pessoas felizes e agradáveis, ou de cachorrinhos e gatinhos se dando bem, nem de fadas e finais felizes entre gatas borralheiras e seus príncipes. Quem dera Camille pudesse ter a sorte de ter uma vida de contos de fadas..mas como todo órfão Budelaire sua vida é uma desventura atrás de outra.
Mas Camille aproveitando seu passeio de moto abraçada e despreocupada chega ao seu destino. Casa do amigo que os estava esperando no portão.
Lá, assim que estacionam a moto são abordados por um grupo de motoqueiros , sim, um grupo, que apesar da noite agradável sem necessidade do uso de capuz estavam todos encapuzados.
Camille já pensa o pior e começa a pedir perdão por qualquer coisa de errado que tenha feito e ajuda para suportar mais uma desventura.
Logo os motoqueiros encapuzados sacam as armas e exigem que a moto seja entregue. Mas é claro isso é uma desventura e a moto acaba travando pois o carsystem não disparou sua bela fala: atenção atenção este veículo está sendo roubado e é monitorado pela carsystem, ligue para carsystem 0800...... mas travou a moto que não dava partida de maneira nenhuma.
Nisso um dos motoqueiros grita com Camille ordenando que ela lhe entregue seu tênis e a bolsa, ela nervosamente obedece.
Os motoqueiros encapuzados vão ficando nervosos pois percebem que não conseguirão levar a moto e um tênis e uma bolsa não são um bom espólio de assalto.
Começam a gritar e um deles manda que atirem em todos. Camille desesperada pensa que ali terminará sua vida e nem para ela estar vestida mais bonitinha, ou ter ido fazer a sobrancelha, ou ter rejeitado mais um pedaço da torta de limão e tantas coisas que ainda não tinha feito, tantas desventuras ainda não vividas, sua vida passando diante de seus olhos.....
Mas ninguém atira, um deles diz que devem ir embora e todos resolvem montar em suas motos sem antes é claro bater no amado e chutar a moto.
Camille de tão agradecida e por ser uma pessoa boa, generosa, misericordiosa, gentil, empática vira para o assaltante a seu lado e em retribuição a abordagem tão calorosa diz: Vai com Deus moço! Vai com Deus!
E assim depois de tanto nervoso, de horas passadas na delegacia, Camille agradece pois o final desta desventura não acabou em morte e em sangue mas sim em mais desaforos e preocupações.

Enquanto isso Camille vive mais desventuras, mas as próximas ficarão para outros relatos pois só de pensar na vida desventurada de Camille, uma tristeza profunda invade meu ser e não consigo mais escrever nada. Preciso chorar um pouco, observar passarinhos fazendo seus ninhos, meus cachorros esparramados ao sol, e o interior da geladeira a procura de algo que não agrida meu estômago.
Como diria Camille: Vão com Deus!